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VERMELHO QUE TE QUERO BEM

     A humanidade, o universo e sua dimensão, tudo o que existe nos céus e na terra foram criados por Deus, inclusive as cores e seus significados.
     Se o azul é mencionado, por exemplo, logo as visões de céu e mar tornam-se alvo da imaginação e sua conotação traz à tona outros elementos; já o verde é capaz de transportar os sentimentos contemplativos ao berço da natureza, deitando o olhar na esperança da preservação da terra. O preto liga-se à escuridão pelos laços da morte que arreganha seus dentes carregados de pavor. Daí a atitude do luto, uma pura demonstração de dor causada pelo abismo da separação. Na mesma matiz escura, outros reflexos tornam-se agregados: a escravidão, o sofrimento, a saudade, o medo, o inferno. Já em outras nuances extremamente opostas surge o branco, símbolo da paz, purificação, castidade e alvura dos pensamentos nobres.  
     Sabendo que toda aquarela pode ser encaixada nesse momento reflexivo, quero me aprofundar na esfera do vermelho, a tonalidade mais viva e intensa de todas. No âmbito terrestre há muitos vestígios de sua vitalidade. Os sentimentos humanos são pintados com sua cor vibrante. A paixão, por exemplo, tão avassaladora, carrega em seu âmago a força de tal naipe, apresentando seu perfil nos casos extremos de entrega ao delírio causado por seus estragos. O desejo é outra fonte que advém do mesmo nascedouro, é como um chafariz que nunca cessa, jorrando sua cor escarlata de forma intensa. A libido também não poderia deixar de ser mencionada, caracterizada como uma energia aproveitável para os instintos da vida, apresentando-se como característica fundamental no campo da atividade sexual, vinculada aos aspectos emocionais e psicológicos. Há também o sangue que circula nas veias, seiva primordial que mantém acesa toda a pulsação do coração, movendo-o entre a sístole e a diástole, regendo a cadência rítmica da vida.
     Há um sangue que merece destaque especial: o de Jesus Cristo. Esse é a razão de toda a plenitude, ponte para romper as barreiras do tempo, rumando para os braços da eternidade. Nele há necessidade de se lavar, encharcar-se na pureza da sua bondade, na graça carmesim aspergida pela humanidade. Sua tonalidade é incomparável, obra preciosa de Deus, tinta viva que jamais desbota. Esse elemento é primordial, através dele uma multidão de pecados são lançados no esquecimento, apagando todas as mais terríveis transgressões. Assim confirmam alguns textos bíblicos: “Pois isto é o meu sangue, o sangue da nova aliança, o qual é derramado por muitos para remissão dos pecados.” (Mateus 26:28); “Mas Deus prova o seu amor para conosco em que Cristo morreu por nós, sendo nós ainda pecadores. Logo, muito mais agora, sendo justificados pelo seu sangue, seremos por ele salvos da ira.” (Romanos 5:8-9); “Mas, se andarmos na luz, como Ele na luz está, temos comunhão uns com os outros, e o sangue de Jesus seu Filho nos purifica de todo pecado.” (I João 1:7).
     No arco-íris do meu sonho contemplo o vermelho, cor bendita que se apodera da alma, arromba as retinas que vislumbram sua majestade.

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