Pular para o conteúdo principal

Postagens

Excelso

     Entre uma aula e outra, numa rápida conversa entre professores, a vida me posicionou na carteira de aprendizado e, como aluno, absorvi a lição de casa:      - Meu filho já tem quase dois anos e até hoje dorme em nossa cama – disse um deles, confirmando a tal decisão do casal.        O outro sapecou à queima roupa um tiro certeiro em meu coração:        - O meu dormiu comigo até os sete anos. A Psicologia que se dane, amar demais nunca fez mal a ninguém!      Um átimo de lucidez acertou-me em cheio e o turbilhão de informações tirou-me de cena. Vislumbrei minha mãe em seus benditos excessos: os olhos contemplativos na estrada não cessavam de me esperar e o sono já se esvaía porque o amor protagonizava o momento do reencontro; as preocupações constantes eram despejadas em mim, sem tréguas, avolumadas de um sentimento que me acompanhavam como sombra.      De repente, o primeiro sorriso de minha filha, Clara, aos 2 meses de idade, encurralou-me e atônito não hesitei em crer
Postagens recentes

Só de butuca!

   Como pode tamanha grandeza ser enclausurada nos templos ou em rótulos que manipulam a manifestação de Tua presença? Tu que és o Criador estás sujeito aos caprichos de tuas criaturas? Precisas registrar Tua chegada quando passas pelo livro ponto dos homens? Qual o motivo desse estica x encolhe, a fim de darem o veredito sobre Tua permanência? Por que muitos insistem em dizer que o Senhor não existe ou é invisível, se Te encontras sempre comigo?     Nos momentos de deleite, debruçado sobre a literatura, Tu ali estás; quando as dissonâncias jazzísticas penetram a audição, acaricias minha alma e dizes, sorrindo: "Também estou aqui, filho!"; no abraço ou choro incontido de um amigo, me aqueces o peito e traduzes tudo em canção, que ecoa convidativo: "Afaga-me, parceiro!"; no olhar amoroso de minha mãe, quantas vezes repousei em Teu colo! Nas quatro paredes, nos momentos de delírio entre os lençóis, quantas vezes vislumbrei Tua ternura estampada nos sussurros da minha

Clara

     É claro que Cristo sempre está conosco e como palavra que reverbera em verdade absoluta, garante a gloriosa majestade de sua onipresença. Mesmo que dias sombrios queiram afugentar a claridade emanada de sua doce companhia, é clarividente que jamais estaremos sozinhos.      A clareza de sua bondade invadiu nossas vidas e como um clarão de relâmpago que reluz do Ocidente ao Oriente inundou de alegria toda nossa casa por causa de sua vinda.     De longe a avistávamos, ora em sonhos, ora claramente em pensamentos que a traziam para perto do nosso alcance, mas ainda não podíamos identificar sua chegada clarificada. De repente, como verdade esclarecedora, o ambiente clarificou e pudemos avistá-la clareando nossa vida. Por isso, posso entoar meu clarinete e agradecer ao Senhor por assentar-se conosco junto à clareira e trazer de presente nossa filha, Clara.

Alicerçado na vida

     E m 31 de outubro de 1517, as 95 teses de Martinho Lutero enraizaram-se no coração daqueles que, iluminados pelo divino, compreendiam a necessidade de pisarmos firmes no solo da Reforma Protestante. Na verdade, suas ideias já fervilhavam dentro de muita gente oprimida pelas falácias e abusos romanos e com sua corajosa manifestação fez com que a erupção jorrasse as lavas da esperança.      As "solas" do latim, que em língua portuguesa intensificam o exclusivismo doutrinário saudável, ganharam força e nos libertaram dos tempos tenebrosos de escuridão. "Somente as Escrituras" merecem crédito, não há nenhum acréscimo a fazer, pois em seu bojo estão contidas a essência da vida; "Somente Cristo", o único caminho que pode nos conduzir à salvação; "Somente a graça", desbancando toda audácia meritocrática do homem, reconduzindo-o ao pó da insignificância e enaltecendo o dom gratuito que vem dos céus; "Somente a fé", o meio pelo qual realiza

Louvor na terra e no céu (in memorian)

     Cantar nunca foi sinônimo de louvar. Quem assim o faz alcança apenas aplausos de um público incapaz de ouvir o som que vem do coração. As cordas vocais não ultrapassam o teto e se desmancham no ar porque entoam sua própria glória.       As formas mais eloquentes de louvor residem no silêncio, é quando a voz embargada empresta à dor uma cantiga sublime que ecoa até os céus. Um choro incontido, vestido de uma gratidão escarlata, soa como solfejos que acariciam os ouvidos do Criador. Assim foi a experiência de Elias quando percebeu que Deus não estava no vento impetuoso que esmiuçava as penhas, nem ao menos no terremoto estrondoso, tão pouco manifestou-se no fogo, mas a realeza reluziu estampada na mansidão e delicadeza.      Louvar implica necessariamente adorar, não é um ato sonoro ou ancorado na afinação. Não há técnicas para sua aprendizagem, apenas disposição em vislumbrar nossa insignificância. Na verdade, quando os olhos se fecham e as bocas emudecem, brota o perfeito louvor,

DELEITE

Com quase dois anos sesteando à sombra dos sons, mesmo sem registros observáveis em papel, a mente continuou fustigando ideias que finalmente resolveram romper esse período de hibernação literária. Essa pausa tem uma explicação: em novembro de 2017, com o álbum “Speaking of now”(2002), do genial guitarrista Pat Metheny, de forma espontânea, deu-se início ao projeto Cola no Som, com postagens semanais no Instagram que, atualmente, já expuseram 23 álbuns.     Minha coleção de discos têm sido o baú das relíquias que compõem o cenário musical. Para que haja um fator surpresa, os episódios são gravados de forma aleatória e depois ouvidos com atenção ao longo de toda semana e só aí vai ao ar.   A cada obra as fichas técnicas repletas de músicos excepcionais entram em cena, hasteando a bandeira do requinte e extremo bom gosto, atingindo em cheio os corações dos seguidores que acolheram o projeto e também respiram música.          O interesse por esse material fonográfico aconteceu por v

LIÇÃO DIVINA

      Neste fim de semana (25 e 26 de junho de 2016), a vida me pregou uma lição: a importância da morte para conscientização da humanidade sobre sua condição de pó.        No auge da existência, aos 32 anos de idade, um infarto fulminante ceifou a jovem Lenice, deixando quatro filhos órfãos. O impacto dilacerante da dor, no primeiro momento, é apenas encarado como crueldade e injustiça, mas há um lado benéfico difícil de ser absorvido, mas que nestas condições adversas forçam os viventes a caírem do egoísmo entronizado, cedendo lugar à fragilidade e uniformização de todos. São nesses momentos de desespero e escuridão que a reflexão acontece como freio para toda nossa pretensão de onipotência. As lágrimas unem-se, os abraços entre parentes e amigos são mais cálidos, espontâneos, demostrando o quanto precisamos uns dos outros e que não há tempo a perder. A saudade também é outra ferramenta usada pelas mãos do Criador, estímulos para trazer à tona tudo o que era precioso e agora se fo