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Mostrando postagens de 2015

AMOR ETERNO

“Não vai mudar, toda mãe é assim, mãe é o nome do amor”. Todo filho compreende a canção “Dona do horizonte”, uma homenagem de Djavan que se estende a todas elas, fãs incondicionais de suas crias, detentoras de elogios que nos acompanham durante a trajetória da vida. - Nossa, meu filho, que lindo seu desenho! – Em meio a tantos rabiscos indefinidos, só os seus olhos puderam contemplar a tal obra de arte. - Filho, sua voz ficou perfeita nesta canção! – Se há algum erro, é da gravação, sempre serei o seu Sinatra!    Trancava-me no salão, onde durante o dia funcionava um açougue, mas à noite virava meu estúdio improvisado. Enquanto as latas de guardar alimento eram os tons e a caixa, a tesoura no pé esquerdo, o chimbal e o estojo de guardar a acordeon, o bumbo, suportando o show barulhento, dizia, sorrindo:    - Lindo esse som, meu filho, parece uma bateria de verdade! Quando a tristeza ainda resolve rondar a minha porta e abater o meu espírito, lá vem ela: - Filho, você é

VITALIDADE DA ALMA NORDESTINA

“...mas quando é dia de festa todo povo do sertão dança para aparar as arestas do coração”, assim menciona Djavan, nos versos de “Vida nordestina”, uma das faixas do seu novo disco autoral: Vidas pra contar. O alagoano tem razão, pude flagrantear o acontecido em Campo Grande, durante esses quase trinta dias que estive por lá. Aos 73 anos de idade, após ter enfrentado duas cirurgias contra uma terrível neoplasia e passar por um tratamento severo, com mais de 30 sessões de quimioterapia e 39 radioterapias, já repousando em sua casa, na peleja com um aparelho desses mais modernos, minha mãe desabafou: - Meu filho, pelo amor de Deus, liga esse bicho, não sei viver sem música! Compreendi-me. Descobri de onde vem minha paixão pela música e literatura (embora já o soubesse). O gene arretado desta cearense me arrebatou ainda em seu ventre. Mal começaram a rugir os primeiros acordes do violão de Yamandu Costa, mesclados à delicadeza sonora que saía do acordeon de Dominguinhos, que, de so

LIBERTAÇÃO

Todo entanguido, Zé Catinga não podia me ver que rotava seu ofício: poetar o bicho bulia na criação – lua, nuvem, estrela tudo o que é bem longe da riqueza do chão. Era só com a cara pra cima pensando que ninho de palavras é em riba do céu - Malassombro! – abanei a cabeça, assuntando o despropósito. Era topar com o besta fera E ele já se enfiava num jardim: rosa, roseira, roseiral Nunca vi gostar tanto assim de flor! Mas poesia nunca esteve ali. Num alumbramento mentiroso seguia vazio em sua desorientação. Pra poema, só flor de toco tem serventia pilhéria, potoca, perfume de pedra e assombração escanchada na garupa das histórias inventadas, também. Pobre do Zé, vive iludido, sem direção carrega uma ruma de papel e letras mortas sempre com seu diploma desformado. Nunca desinformou a palavra mode deixá-la troncha só anda na lei das regras, feito polícia que de arte não tem rastro nem cheiro. Nunca ouviu a vó Bela empoemar no pé de manga nem ao

TRAQUINAGEM

        Em 1952, o Senhor disse a João Lacerda: “Sai-te do sertão nordestino, da tua parentela e da casa de teu pai, para a terra que eu te mostrarei.  E far-te-ei uma grande nação, e abençoar-te-ei e engrandecerei o teu nome; e tu serás uma bênção." Assim o Padre Solimário marcou a abertura da 11ª festa da Família Lacerda, realizada em Campo Grande, entre os dias 19 e 21 de junho de 2015, parafraseando o fato histórico acontecido na vida de Abraão, o pai da fé cristã.       Assim aconteceu. Com mais de vinte dias na estrada, num pau de arara fretado, uma leva de parentes desembarcaram na cidade de Pedro Gomes. Dois anos depois, todos os demais chegaram e ali permaneceram firmes na promessa. A bênção se expandiu e novos horizontes foram surgindo: Sonora, Coxim, Campo Grande, Cuiabá, Goiânia, São Paulo, até o exterior recebeu as estacas, evidenciando que as tendas realmente estenderam-se.     Cinco gerações marcaram presença no evento. Alguns ainda guardavam fresco na mem

NOS TRILHOS DA GRATIDÃO

        Durante os dias que estive no Hospital do Câncer, como acompanhante da paciente Maria de Lourdes Matos Lacerda, minha mãezinha querida, durante o mês de maio de 2015, na inesquecível cidade morena, vivenciei algumas lições que levarei como eterno aprendizado: em primeiro, a consciência plena da estrutura humana, sua condição frágil de pó, o quão necessitado somos uns dos outros, por compartilharmos os mesmos sentimentos de dor, medo e angústia.        É exatamente nessas horas que o ego despenca de seu pedestal e, capenga, vislumbra que tudo nesta vida não passa de vaidade e ilusão.     Em segundo, a admiração por essa nobre e idônea profissão, em que médicos e enfermeiros se desdobram para proporcionar o melhor atendimento aos pacientes. Nessa tarefa árdua de lidar com vidas, percebi que o dom divino aflora nos gestos e atitudes de bondade que exalam generosamente de seus ofícios de exercer o bem.        Diante de tal realidade, seria uma extrema ingratidão se não deixas

NA COMANDA DE DEUS

     Por que somente agora resolveu registrar as lembranças vivenciadas nessa temporada (07 de dezembro de 2014 a 08 de janeiro de 2015), se o tempo cumprindo seu ofício de avassalar, já virou as costas para o evento e segue peregrinando futuro afora? – perguntou o leitor ao cronista.     Mal sabe ele, que mesmo já em solo rondoniense, ainda estou sobrevoando o céu da cidade morena. Pela janela do avião, nuvens de algodão passam carregadas de lembranças torrenciais que inundam esse coração sempre sedento de chuva. As rajadas de risos destrabelhados dos entes queridos e amigos respingam nas janelas. Transponho toda a cena repleta de lampejos que ornamentam a imensidão para o cardápio preso à poltrona, mas a vista se embaralha e só vê o que a mente deseja: bobó de camarão a la Ivanilde; lasanha a Madrinlurde; churrasquinho turco do Gazal; bisteca assada em gengis khan, marinada entre arpegios e acordes da guitarra Victoriana; calabresa temperada ao molho Téiu, folha de guaxo e pão