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Mostrando postagens de junho, 2011

ÁGUAS PERIGOSAS - Conto do livro "As presepadas de Dalai", 2008

     Juda foi o maior beneficiado pelas gentilezas empregatícias de Dalai, foi com ele que aconteceram as principais presepadas e aventuras, uma delas foi a visita às cataratas. Na verdade, as águas não passavam do joelho.      Para que o passeio não fosse interferido por nenhum imprevisto, Dalai realizou uma espécie de palestra para a equipe formada por Juda, Yarabela e Beth Mundrongo, detalhando o local, descrevendo os perigos mais iminentes, precavendo-se de qualquer espécie de infortúnio. A organização e a tática sempre foram aliadas ao comportamento de Dalai, seu espírito aventureiro não dispensava certas precauções, não gostava de correr riscos, mantinha-se numa linha mais metódica, calculista, a fim de que nada pudesse sair do seu comando estratégico. Sendo ele o único que conhecia bem o local onde seria realizado o acampamento, as coordenadas preliminares foram apresentadas:      - Olha, gente, lá a queda d’água é violenta, o barulho é ensurdecedor. Alguns até dizem que as

PROPOSTA INDECENTE - Conto do livro "As aventuras de Borba" (2007)

     Era um domingo. Bororo, Bozo, Giseuda, Gisélia, Humberto, Macumbé, Fernando, Zana e Borba brincavam de esconde-esconde. Mesmo sendo mais inocentes que as crianças da cidade, eles tinham seus momentos de malícia. Borba gostava de se esconder com Zana. Sempre achavam um bom lugar para permanecerem ocultos, de preferência que durasse muito tempo para que fossem encontrados.       Finalmente a oportunidade surgiu. Borba teve a chance de pôr em prática mais uma de suas ideias geniais: lembrou-se de uma caixa de lápis de cor, da fábrica Faber Castell, a preferida pelos alunos, que havia ganhado da mãe. Mesmo gostando do presente e assumindo o risco de fracassar com o plano, arriscou.       Trancaram-se no galpão. Zana estava com um vestido estampado, mostrando parte das pernas grossas e empoeiradas, aquelas que roubavam algumas noites de sono do nosso herói. Ele olhou para o chão, meio envergonhado, pensando em desistir da ideia, mas venceu o medo e disse:        - Zana, dou-lhe

GERANDO EMPREGO - segunda parte (Conto do Livro "As presepadas de Dalai", 2008)

     Bronson foi outra vítima da generosidade de Dalai. Vindo de Pedro Gomes, cidade pacata do interior de Mato Grosso do Sul, o primo estava desamparado, não conhecia muitas pessoas na cidade grande e havia encerrado sua carreira de jogador de futebol. Não demorou muito para que Dalai também desse “aquela forcinha”. A estratégia era a mesma: sair nas baladas e apresentar-lhes a moçada, assim ficaria mais fácil encaixá-lo nesse novo universo.      Mesmo no agito, rodeado de amigos e, principalmente, “amigas”, Dalai não descuidava, sempre atento às reações de Bronson, observando suas maneiras, trejeitos, manias, querendo buscar algo que combinasse com seu estilo. Seu coração amolecia quando se punha a pensar que o tempo estava passando e era necessário arranjar-lhe alguma ocupação.      E aí, Bronson, já arranjou algum esquema? – incitava Dalai.       - Tranquilo, está tudo sob controle.       Dalai abria aquele sorriso maroto e falava em pensamento: “garoto esperto, puxou a mi

NICANOR, O TERRÍVEL (Conto do livro "As aventuras de Borba", 2007)

     Algo que também acontecia muito nessa época eram as fortes dores de dente provocadas pelo excesso de balas, pirulitos, suspiros, marias-moles, paçocas, chicletes e outras guloseimas que os meninos adquiriam com os serviços prestados na fazenda. Eram fregueses assíduos do Loro, de Seu Raimundo Batista, da Dona Vá e Dona Elvira. Borba também furava as latas de leite condensado que eram vendidas no bar de sua mãe, o - “Nossa Senhora Aparecida” e tomava num gole só. Borba, Bozo, Bororo e os demais companheiros investiam suas economias nessas açucaradas delícias e o prazer tornava-se mais tarde em cáries que se alastravam pela boca. Foi exatamente nesse período que Borba passou a ter novas ideias.      Na cidade havia um homem muito temido pelos meninos: Nicanor, um dentista gordo que carregava uma enorme mala com seus apetrechos odontológicos – um boticão e uma seringa para anestesia. O povo comentava que ele só trabalhava “melado”, se estivesse sóbrio, esquecia-se de como exercer

GERANDO EMPREGO - primeira parte (Conto do Livro "As presepadas de Dalai", 2008)

     Depois da difícil vida de empregado, Dalai passou a investir no ramo de pneus, tornando-se proprietário da loja “Roni Pneus”, mas isso não o impedia de se aventurar em outros negócios, sempre com aquele espírito solidário, buscando ajudar os outros, gerando oportunidades de emprego.      O primeiro a ser favorecido foi seu primo Vandeco, que morava em Dourados, mas devido à escassez de trabalho, tornou-se guarda de carro. Na verdade ele tinha sido contratado para trabalhar na loja, mas seu talento natural era outro e não passou despercebido pelo olhar clínico de Dalai.       Na loja, Vandeco, Preto e Nenê revezavam o serviço: cambagem, caster, alinhamento, balanceamento, troca de óleo, enquanto isso Dalai ficava apenas observando os funcionários, mas quando chegavam as garotas, aí ele fazia questão de atendê-las. O tratamento era diferenciado, servia-lhes café, bolo, chocolate, capuccino, água gelada, suco natural, água de coco, sujava-se de graxa, empenhava-se para deixá-la

ENFEZANDO O BORORO (Conto do livro "As aventuras de Borba", 2007)

Tudo começou há muitos anos atrás, quando o protagonista desta história ainda nem sonhava em ser consagrado como o grande “Borba”, mas desde cedo já demonstrava sua maestria em termos de inventividade. Antes de mencionar seus inúmeros momentos criativos, quero transportar-lhe à pacata cidade de Pedro Gomes, Matogrosso do Sul, terra natal do nosso herói, onde se dá o início de toda sua trajetória. Ele morava na zona rural, na fazenda “Picada”, juntamente com os pais e seus três irmãos. A maior parte do tempo mantinha-se ocupado na roça, algo que o impedia de estudar com mais afinco. Também vendia leite para ajudar na renda familiar. Os momentos de lazer eram improvisados na própria lida cotidiana. A primeira manifestação de criatividade do nosso protagonista foi uma descoberta gloriosa: seu irmão mais novo, o Bororo, quando desafiado a demonstrar sua força e masculinidade viril, fazia todo o serviço do campo, enquanto Borba e seu tio Bozo, desfrutavam da regalia de descanso. Bororo

ACORDA, DALAI! (Conto do livro "As presepadas de Dalai", 2008)

     Eis aqui um conto do meu livro "As presepadas de Dalai", lançado em 2008.      Sempre em busca de uma independência financeira, muito antes de obter seu próprio negócio, Dalai investiu em vários ramos de trabalho, foi bancário, vendedor, balconista de farmácia, leiteiro, padeiro e plantonista numa loja de conveniências, mas infelizmente surgiram alguns percalços, pois seu perfil não se adequava às certas exigências. Acordar cedo, por exemplo.      As evidências neurofisiológicas sempre indicaram que o sono para ele não se trata apenas de repouso cerebral, mas uma leseira crônica profunda, tornando-se cada vez menos reativo aos estímulos sensoriais. Sua vida boêmia sempre contribuiu para o avanço do estágio denominado “Sono de pedra”, por esse motivo, juntando as noites mal dormidas ao distúrbio congênito que lhe acompanhava, ficava difícil desempenhar certas funções.      Seu primeiro emprego foi de estagiário na fazenda “Pirituba”, em Terenos, próximo à Campo Gra