Pular para o conteúdo principal

GERANDO EMPREGO - primeira parte (Conto do Livro "As presepadas de Dalai", 2008)


     Depois da difícil vida de empregado, Dalai passou a investir no ramo de pneus, tornando-se proprietário da loja “Roni Pneus”, mas isso não o impedia de se aventurar em outros negócios, sempre com aquele espírito solidário, buscando ajudar os outros, gerando oportunidades de emprego.
     O primeiro a ser favorecido foi seu primo Vandeco, que morava em Dourados, mas devido à escassez de trabalho, tornou-se guarda de carro. Na verdade ele tinha sido contratado para trabalhar na loja, mas seu talento natural era outro e não passou despercebido pelo olhar clínico de Dalai.
     Na loja, Vandeco, Preto e Nenê revezavam o serviço: cambagem, caster, alinhamento, balanceamento, troca de óleo, enquanto isso Dalai ficava apenas observando os funcionários, mas quando chegavam as garotas, aí ele fazia questão de atendê-las. O tratamento era diferenciado, servia-lhes café, bolo, chocolate, capuccino, água gelada, suco natural, água de coco, sujava-se de graxa, empenhava-se para deixá-las bem à vontade e facilitar o primeiro contato.
    Aos finais de semana, Dalai convidava Vandeco para conhecer alguns lugares: bares, boates, restaurantes, clubes, sempre ambientes recheados de muitas mulheres, já que essa sempre foi a sua principal clientela. Dalai possuía um imã que atraía todas as classes e cores (tailandesas, indianas, polonesas, coreanas, italianas, ruivas, loiras, negras, mulatas, japonesas, alemãs, russas, etc...), mas o primo não acompanhava seu ritmo, as madrugadas eram longas demais para ele.
     - Acorda, Vandeco! – o sono era interrompido com as batidas de Dalai no vidro do carro.
     - Ehea! Ehea! - era o som da risada de Vandeco, muito parecida com a do Pateta, personagem de desenho.
     Dalai sentiu aquele visgo de ideia chegar-lhe à mente, trazendo à tona a principal função que poderia ser desempenhada pelo primo e soltou uma de suas pilhérias:
     - Já sei, Vandeco, você será guarda e meu motorista particular, mas não pode babar em serviço – exclamou, limpando aquela gosma impregnada no banco.
     - Ehea! Ehea!
     - Acelera, Pateta, vamos pra casa, você já trabalhou demais por hoje! – mencionava Dalai, tomando a saideira.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

MATANDO O FRANGO

     O Criador absoluto de todas as coisas, em sua infinita misericórdia, resolveu se revelar ao homem através da morte e ressurreição do seu filho amado, Jesus Cristo, bem como manifestando a sua vontade evidenciada na Bíblia, mas também tem usado homens e mulheres como canais de bênçãos sobre a terra.  Assim ele o fez quando permitiu que alguém me trouxesse uma realidade tão evidente, porém em uma frase aparentemente tosca e rudimentar: “Você precisa matar o frango”. Tal expressão ficou martelando meus neurônios durante dias e a compreensão exata dessa comparação trouxe um ensinamento valioso que precisa ser colocado em prática, mas não é tão simples assim.       No Evangelho de João, capítulo 3, versículo 3, há um processo que desencadeia a libertação, isso acontece quando alguém entende que está terminantemente perdido, enlaçado nas tramas do pecado, gerando arrependimento por tais práticas, trazendo o entendimento...

Sapiência sobejante

      Aboletou-se em meio a uma roda de conversas esparsas e sapecou à queima roupa seu falatório pomposo:      - Disso eu conheço bem, sou cientista, não sei se sabem?!      Dois deles encolheram os ombros, numa mescla de assombro e desorientação, sendo ligeiramente alertados pelos demais:      - Esse é seu Ícaro, o cabra mais sabido da região. Ícaro não sei das quantas... (destrinchou o prenome, sobrenome,  comprido que só o diacho, porque cientista que é cientista deve ostentar pelo menos meio metro de escrivinhatura, firmada na força da proparoxítona exigida na pronúncia).      Tomou conta da roda e palestrou com os holofotes acesos em pleno meio-dia.       Seu Ícaro era um outdoor ambulante, espalhafatoso, emblemático, rotava sua reluzência por onde passava e sua ignorância nata assumia ares de elegância, vestia-se de uma sabedoria pelega e brilhava sua ostentação fajuta.   ...

Policarpo

     Hoje o Policarpo me deu o ar de sua graça, mas de seu xará literário, o Quaresma, não tem nada de quixotesco, ostenta apenas o ofício de ceder sua monta. O baita reconheceu logo minha hesitação em desconfiar de sua submissão, mesmo assim apenas murchou as orelhas pardas e partiu a dividir comigo seu mundo.      Marcelo, Ilto e Almiro iam troteando à frente; e enquanto meu companheiro cumpria sua tarefa árdua naquelas veredas, estupefato o admirava pela resiliência em suportar o montador e as pedras que fustigavam seus cascos. Na sela não iam apenas o peso do corpo, as lembranças de meu pai, a saudade de minha mãe, mescladas à alegria de contemplar todo cenário que guarneceria minha família, vinham na garupa, mas o animal não reclamava, seguia firme sua jornada.      No trajeto de volta, em meio à chuva que regia a estreia da aventura, já acostumado com a lida, abocanhou a forrageira, ouviu minhas orações e pareceu ter compreendido o tal ...