"Pássaros urbanos", de Raimundo Fagner, apesar de ter sido lançada em 2014, somente alguns anos depois passamos a apreciar esta pérola do nosso cancioneiro. Digo "passamos" porque a obra foi alvo de inúmeras audições entre minha mãe e eu. Nesses momentos éramos arrebatados pela música, um sentimento avassalador que só pode ser encontrado na esfera da paixão.
Quando a primeira faixa se iniciava, o som das castanholas faziam com que ela erguesse os braços e girando na sala, fosse transportada para o solo espanhol, enquanto eu dividia as atenções entre o violão e a bateria, dando socos e palhetadas no ar. Era nosso transe cultural. Quem flagrasse esse estágio contemplativo pensaria em nos conduzir a um manicômio. Não posso denominar essa comoção de amor. O amor é calmaria, quietude, ternura, paciência, maresia, elo existente entre os alucinados ouvintes em questão. Paixão é loucura, furacão, ausência de senso do ridículo, febre, insanidade, o vínculo existente entre nós e a arte.
Desde a mais tenra idade já carregava esse delírio pulsando nas veias. As leituras e audições sempre me provocaram esse fascínio, um levitar necessário para continuar pisando no chão da realidade. Dona Maria de Lourdes era minha cúmplice nesse universo, com ela dividia a camisa de força sonora que nos aqueciam nesta chama flamejante.
Três anos após sua partida, ainda sinto falta da energia transcendente dessa parceria. Preservo no coração sua vitalidade, fé e seu estágio de encantamento pela vida. A despedida já era anunciada nos versos da faixa "Se o amor vier", só não me atinava na profecia cantada:
"Consegui não me afogar
Enganei até a morte
Hoje estou bem mais forte".
O letrista Clodo tinha razão, a canção agora ecoa nas minhas audições solitárias e, apesar de sua ausência sentida, este versos acalentam minha saudade por saber que ainda continuamos a cantar juntos, mas em planos distintos.
Meu primo-irmão, tivemos tantos momentos juntos. Só tenho que agradecer à Deus por sua vida.
ResponderExcluir"Vocês continuam vivendo no mundo das criaturas, eu estou vivendo no mundo do Criador.
Não utilizem um tom solene ou triste, continuem a rir daquilo que nos fazia rir juntos.
Rezem, sorriam,
Pensem em mim.
Rezem por mim."
Santo Agostinho.
Você sempre estará em meu coração e nas minhas orações. Assim como a sua mãe que tanto me deu carinho e atenção.
Que sejamos sempre mais unidos até chegarmos na morada eterna da família de Deus.
Receba meu apoio e abraço irmão.