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FURDUNÇO NA TERRA E NO CÉU

          Prosadores, poetas, músicos, cantores, compositores, mestres na improvisação, possuidores de um senso de humor afiado, além de pilheristas natos, eis algumas das características marcantes das minhas raízes sanguíneas. Trata-se de uma herança nordestina arraigada em nosso gene.
          Eis uma prova disso: enquanto Pedro Gomes fervia na 9ª festa da Família Lacerda, entre os dias 21 e 22 de julho de 2012, segundo meu dileto primo, Manoel Lacerda Lima, outros entes queridos também comemoravam no mundo espiritual. Delicie-se com o belo poema:

Festa da família Lacerda no céu

Meus sempre amados parentes,
consanguíneos e afins!
de perto ou lá dos confins,
no prumo ou andando ao léu:
o que aqui chamo de céu
é o mundo espiritual!
morada do imortal,
que todos somos na Vida,
onde parte da querida
Família é mais que vivente!

No mesmo dia de Julho,
no sábado, vinte e um,
algo fora do comum
aconteceu, lhes garanto:
Quase como por encanto,
e na mesma vibração,
lá na outra dimensão,
grande festa aconteceu,
aqui e lá estremeceu
da alegria o barulho!
Toda a emoção de cá,
na festa de Pedro Gomes,
onde estavam tantos nomes
dessa Família querida,
fez uma onda incontida
de amor e fraternidade
alcançar a irmandade,
lá no mundo essencial,
numa festa sem igual...
Digo quem estava lá!
Antes, descrevo o lugar,
onde tudo acontecia:
Qual ilha da fantasia,
onde luzes coloridas
iluminavam floridas
alamedas perfumosas,
todas orladas de rosas,
lírios, tulipas, verbenas
e tantas outras, nas cenas
daquela festa sem par!
Como sempre, em liderança,
vi Pedro Lacerda Leite,
e ao seu lado, em deleite,
Maria da Conceição,
sua esposa. – Eles são
nossos avós ancestrais,
tronco de onde os demais,
de alguma forma vieram,
por isso todos se esmeram
em guardá-los na lembrança!
Um ser de luz e carmim
atraiu minha atenção:
com seu olhar de oração,
era minha mãe, Leonor,
de braços com seu amor,
meu pai, Antônio Pereira,
e forte emoção ligeira
invadiu meu coração:
com eles vi meus irmãos,
saudoso Antônio e Joaquim!
Inês e Leon-Denis,
minha cunhada e sobrinho,
esposa e filho do ninho
que fez meu irmão Antônio,
viram esse pai risonho,
nesse encontro fraternal.
Iluminado portal
abriu-se à minha frente,
e dele eu vi tanta gente
sair, alegre e feliz!
Vi os demais componentes,
Lacerda e das demais clãs,
e todos em seus afãs
de ter o amor por premissa.
Vi João Lacerda e Felícia
abraçando Cleusa, a nora.
Felícia um sorriso aflora,
vendo Dalva, a sua neta,
chegar cantando na festa
e dar-lhe um beijo, contente!
Vi, esbanjando alegria,
Tia Josefa abraçar
Raimundo Osório e dançar,
chamando a filha Toínha,
que logo se avizinha,
trazendo Antônia Abdias,
ao som das melodias
que vibram felicidade,
fazendo aquela irmandade
sentir a luz que irradia!
Dedilhando um violão,
vi Tio Antônio a cantar,
vi Tio Cícero dar,
a bênção pra quem dançava!
Vi Tio Joaquim que beijava,
alegre, Antônio seu filho.
Da paz eu vi todo o brilho,
em Tia Antônia e Zé Né,
que ali professavam a fé
no amor que faz união!
Naquele doce ambiente,
de emoção sempre viva,
Tio José e Tia Diva,
a sorrir, deram-se as mãos,
sentindo a paz do perdão,
e o sabor da harmonia,
em que a sabedoria
é sempre melhor que a astúcia,
vi Lúcio e Maria Lúcia
beijá-los fraternalmente!
- “O amor é uma luz que emana
de um Sol que nunca se acaba” -
explica pra Luiz Barba
sua filha Carmelita,
enquanto Luíza fita
Joaquim que chega radiante.
Surgem, ali, nesse instante,
tia Rosa e tio Celeste,
e tudo em volta se veste
da energia que irmana!
Uma estrela cintilante
de cores o céu salpica,
enquanto Tia Francisca
Manoel Bezerra afaga,
e o céu de luz se alaga
pra Vicente e Felisbela
e pra toda a prole dela:
Joaquim, Robson, Chiquinha,
Edivan e a priminha
Rosimeire, meiga infante!
Papai e mamãe revejo,
em mais um grupo animado:
com eles, os meus cunhados,
Artur e Bartolomeu,
Zé Adelino e Montel,
tão livres de suas dores,
e admirando as flores
naquele jardim do Além,
onde Deus tudo provém
e a Luz é mais que um lampejo!
Nesse grupo de meus pais,
dois netos seus são dois anjos:
suas roupas são dois arranjos
de Luzes e diamantes,
e de cores vicejantes...
um José Paiva, outro a Nédia,
que aquém da infância média,
bom Deus com Ele levou,
com eles para o céu voou
e os dois não voltam mais!
O som baixou de repente,
todos ficaram de pé,
os anjos Nédia e José,
trazendo um primo amparado,
Alexandre, ali chegado,
ouvindo vozes saudar:
- “Bem-vindo de volta ao lar!”. 
Quando o coro se esvaiu,
um toque sobressaiu
de uma sanfona cadente!
Termina aqui minha visão,
minha querida família!
Permaneço na vigília
de vibrar, pra sempre, amor!
Neste poético labor,
que fez na forma ligeira,
desse Nelzinho Pereira
uma surpresa lhes resta:
Quem animava essa festa?...
Luiz, o Rei do Baião!

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