Pular para o conteúdo principal

DELEITE


Com quase dois anos sesteando à sombra dos sons, mesmo sem registros observáveis em papel, a mente continuou fustigando ideias que finalmente resolveram romper esse período de hibernação literária. Essa pausa tem uma explicação: em novembro de 2017, com o álbum “Speaking of now”(2002), do genial guitarrista Pat Metheny, de forma espontânea, deu-se início ao projeto Cola no Som, com postagens semanais no Instagram que, atualmente, já expuseram 23 álbuns.   
Minha coleção de discos têm sido o baú das relíquias que compõem o cenário musical. Para que haja um fator surpresa, os episódios são gravados de forma aleatória e depois ouvidos com atenção ao longo de toda semana e só aí vai ao ar.  A cada obra as fichas técnicas repletas de músicos excepcionais entram em cena, hasteando a bandeira do requinte e extremo bom gosto, atingindo em cheio os corações dos seguidores que acolheram o projeto e também respiram música.
         O interesse por esse material fonográfico aconteceu por volta de 1984, período em que tive acesso à coleção de discos de um primo. As novidades me arrebatavam à cada audição. Era tudo incrível, diferente, genial. Era Jazz, música instrumental brasileira e MPB da pesada. A curiosidade me instigou a comprar os primeiros exemplares, em 1987, em plena adolescência efervescente. Ao longo desses 31 anos, garimpando, pesquisando, ouvindo, reouvindo, peneirando, o acervo foi tomando corpo e recheando as prateleiras de sonoridades entrecortadas de genialidades.
Certos dias o estágio contemplativo de colecionador me aguça os sentidos, fazendo recordar de cada conquista, de muitos materiais encontrados nos inúmeros sebos que visitava constantemente. Na verdade mesmo, as estantes sempre estiveram vazias, apenas com as couraças à exposição, os discos seguem enfileirados nas prateleiras da mente e do coração, mas às vezes, brincando comigo mesmo, com os olhos fechados, em frente à inestimável coleção, estico o braço e aleatoriamente fisgo um exemplar, solto o som e arrisco de araque:
         - Arismar! Hancock! Toninho! Sivuca! Tapajós! Coltrane! – dou nome ao santo (só tiro certeiro, é claro).
Com o mesmo olhar de curiosidade, vislumbro o material estendido em minhas mãos, abro os olhos e agradeço a Deus pela trajetória percorrida e o privilégio de tê-los ali como aconchego nos momentos de deleite. Como quem não tem pressa, almejando mais vida e mais sons, sigo a jornada de divulgação da música de qualidade, embalado pelo eterno.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

MATANDO O FRANGO

     O Criador absoluto de todas as coisas, em sua infinita misericórdia, resolveu se revelar ao homem através da morte e ressurreição do seu filho amado, Jesus Cristo, bem como manifestando a sua vontade evidenciada na Bíblia, mas também tem usado homens e mulheres como canais de bênçãos sobre a terra.  Assim ele o fez quando permitiu que alguém me trouxesse uma realidade tão evidente, porém em uma frase aparentemente tosca e rudimentar: “Você precisa matar o frango”. Tal expressão ficou martelando meus neurônios durante dias e a compreensão exata dessa comparação trouxe um ensinamento valioso que precisa ser colocado em prática, mas não é tão simples assim.       No Evangelho de João, capítulo 3, versículo 3, há um processo que desencadeia a libertação, isso acontece quando alguém entende que está terminantemente perdido, enlaçado nas tramas do pecado, gerando arrependimento por tais práticas, trazendo o entendimento sobre a aceitação da pessoa de Jesus Cristo como libertador de sua

EMBAGRECIDO

Lá pras bandas do Miranda Apoitado na toca da onça Ele passou por mim Entanguido que só Lembrei-me. Desfilou todo entojado Tocando Miles e Morgan O resto dos peixes Embalados pelas ondas do momento Não davam nem as horas. - Num canta não, nojento?   - desdenhava a piraputanga - Larga essa corneta, malassombro! – pilheirava o pacu Até cascudo tirava uma casquinha do pobre Assuntei bem a lição. Eita bicho medonho O tal do bagre Pode estar entocado em seu isolamento Solitário e escarnecido Mas sobrevive a todo instante Desacata o tempo Desmente a lua E segue seus lamentos Sem saber que cá do barco Eu embagrecia, todo vaidoso Enquanto as águas, como espelhos Refletiam minha vida Escorrendo rio abaixo.

Excelso

     Entre uma aula e outra, numa rápida conversa entre professores, a vida me posicionou na carteira de aprendizado e, como aluno, absorvi a lição de casa:      - Meu filho já tem quase dois anos e até hoje dorme em nossa cama – disse um deles, confirmando a tal decisão do casal.        O outro sapecou à queima roupa um tiro certeiro em meu coração:        - O meu dormiu comigo até os sete anos. A Psicologia que se dane, amar demais nunca fez mal a ninguém!      Um átimo de lucidez acertou-me em cheio e o turbilhão de informações tirou-me de cena. Vislumbrei minha mãe em seus benditos excessos: os olhos contemplativos na estrada não cessavam de me esperar e o sono já se esvaía porque o amor protagonizava o momento do reencontro; as preocupações constantes eram despejadas em mim, sem tréguas, avolumadas de um sentimento que me acompanhavam como sombra.      De repente, o primeiro sorriso de minha filha, Clara, aos 2 meses de idade, encurralou-me e atônito não hesitei em crer