“...mas quando é dia de festa todo povo do
sertão dança para aparar as arestas do coração”, assim menciona Djavan, nos
versos de “Vida nordestina”, uma das faixas do seu novo disco autoral: Vidas
pra contar. O alagoano tem razão, pude flagrantear o acontecido em Campo
Grande, durante esses quase trinta dias que estive por lá.
Aos 73 anos de idade, após ter enfrentado duas
cirurgias contra uma terrível neoplasia e passar por um tratamento severo, com
mais de 30 sessões de quimioterapia e 39 radioterapias, já repousando em sua
casa, na peleja com um aparelho desses mais modernos, minha mãe desabafou:
- Meu filho, pelo amor de Deus, liga esse bicho,
não sei viver sem música!
Compreendi-me. Descobri de onde vem minha paixão
pela música e literatura (embora já o soubesse). O gene arretado desta cearense
me arrebatou ainda em seu ventre. Mal começaram a rugir os primeiros acordes do
violão de Yamandu Costa, mesclados à delicadeza sonora que saía do acordeon de
Dominguinhos, que, de sobressalto, já rodopiando pela sala, ela bailava em
plena liberdade, agarrando a mão do vento e me convidando para afugentar o
silencio que até então imperava. Outras canções foram salpicando brasas em
nossos pés e por alguns instantes não havia dor, lamento ou qualquer vestígio
de enfermidade, pelo contrário, o espírito do Senhor pairava sobre aquele
lugar, a força divina se entrelaçava aos sons que ecoavam pela casa.
Já ofegante no sofá, enquanto seu corpo ainda
frágil dava os últimos passos, vislumbrei a debilidade da matéria
contrastando-se com o vigor do espírito; testemunhei a vitalidade da alma
nordestina, a qual não se entrega nem desiste de lutar, capaz de suportar as
agruras do tempo com o escudo da fé e do bom humor e não esmorecer jamais.
Toda esta experiência só confirmou
aquilo que eu já sabia: música é remédio; o amor realmente existe e Deus está
em todo lugar.
Riqueza de simbiose esse marcado artigo/crônica, que suplanta os estilos literários e deixa transparecer a figura do meu amigo lustrado, Berto Lacerda.
ResponderExcluirQue desde os bancos escolares lá na JI-Paraná demonstrava pelo brilho do olhar e acalorado falar, num confortante e lento linguajar que sabia do que estava falando e o que estava querendo.
Mescla de paulsitas e cearenses, com passagem pelo ELDORADO do Mato Grosso do Sul, com amigos de todas as querências nos brinda agora com este prestimoso texto. OBRIGADO, MUITO OBRIGADO!!!
Denota este intercãmbio sem preconceito, por exemplo, quando ilustra o memorável encontro do virtuose gaúcho Yamandu Costa violeiro de marca maior, e a mescla da delicadeza sonora não menos genial do sanfoneiro universal Dominguinhos... Fala da liberdade, e da revitalização descreve, no caso em tela com o amor de filho, descreve a mãe! Em sua recuperação, Oxalá!!!
Em passagens como : " (...) agarrando a mão do vento e me convidando para afugentar o silencio que até então imperava." Poetiza a crônica.
Nos relembra a inexorável dicotomia entre a debilidade da matéria e o paradoxal vigor do espírito;Testemunha e nos socializa generosamente com os dias que acompanhou e acompanhará de uma vitalidade de alma nordestina, guerreira que não se rende a dura luta!
Fala do "escudo da fé" e do bom humor que como forma de remédios não esmorecem jamais.
De novo, por que faz j u s, OBRIGADO, MUITO OBRIGADO, Manu Novu!!!
Obrigado, mano velho, pelos elogios.
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ResponderExcluirExtraordinário texto primo véio. A vitalidade da nossa alma nos impulsiona na direção do Amor do Pai que nos cobre de bênçaos, especialmente nos momentos de dor e de sofrimento. A sua mãezinha é uma forte e está enfrentando tudo com resignação graças ao poder da sua fé verdadeira em dias melhores.
ResponderExcluirParabéns poeta!
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