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DEZ, NOTA DEZ!

       Nos dias 02, 03, 04 e 05 de março de 2014, o bloco carnavalesco, Unidos do Miralobra, com o enredo “Reencontro”, deixou na poeira todas as escolas de samba da cidade maravilhosa, os cilibrins ofuscaram os holofotes e o glamour da Sapucaí, voltando-se para as águas do Miranda, proporcionando mais um evento antológico.
       Gazal, o ilustre Mestre-sala e Nilva, a performática Porta-bandeira desfilaram de forma magistral ao som da marcha turca que era conduzida pelo violonista, Vitinho do Prata; no quesito “alegorias e adereços”, a nota dez já era mais que prevista. Burcas, varas, molinetes, morangas, lambaris, minhocas, tuviras, carretilhas, sapicuás, sete léguas, repelentes de toda espécie e chapéus ornamentavam o ambiente; um dos grandes destaques foi a passista Dona Lourdes e sua deslumbrante fantasia “Noites do Oriente”, esvoaçando seu turbante como um pavão eufórico; Já a Comissão de frente foi muito bem conduzida pelos foliões, Ludião e Chena. O nível de encegueramento deles era tanto que passaram a noite inteira enfeitando o carro alegórico denominado “Rancho”, com suas lonas cortinadas, num tom pastel alaranjado, meio allegro ma non troppo, a fim de não perderem nenhum minuto sequer da aventura. E o que dizer da harmonia? Esta foi o cerne do evento. Não houve uma rusga sequer que atrapalhasse o espetáculo deslumbrante. O entrosamento e a alegria da equipe já vinham de longa data, eram parceiros de muitos outros carnavais. O riso frouxo era contagiante, às vezes mesclado por lágrimas que já corriam antes mesmo da saudade fincar suas estacas. A bateria merece um destaque especial. Era intrépida, todos participaram de forma efetiva, executando golpes certeiros e rasantes no tema “Nuvem pernilonguesca”, uma cadência rítmica desenfreada, sem pausas, com fusas e semifusas mais ligeiras que a carreira de um teiú.
       Depois do evento, agora tendo como trilha sonora a balada jazzística “momentos”, tema instrumental do argentino, Luis Salinas, com o letrista já em águas rondonienses, a nostalgia me fez refletir na importância dos fragmentos de vida, vestígios do eterno. A folia cessou, agora é tudo calmaria e, à sombra de Deus, apoito o meu barco e lanço os anzóis. É nesse fundo de rio que ele se ancora e descansa, só aguardando o cardume de sonhos passar outra vez.

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