Ao telefone, minha mãe desculpava-se
pelo fato de não ter me enviado nenhum presente, o que não concordo e passo a
explicar: Segundo ela, às 16:30 horas, em março de 1973, em plena segunda-feira,
enquanto os trabalhadores quase encerravam sua primeira jornada exaustiva da
semana, meus olhos sonolentos abriram-se pela primeira vez, já chorando grave e
sorrindo para o mundo. Isso explica o motivo que sempre me levou a não gostar
de acordar cedo e, por isso, repudiar o ridículo ditado popular: “Deus ajuda,
quem cedo madruga”. Nasci bem depois da hora do almoço, no entanto tenho
inúmeras bênçãos para contar.
Uma delas é o fato de ser um apreciador do mundo das artes, ter a
sensibilidade de contemplar uma boa leitura, ser levado pelas ondas dissonantes
do jazz, sentir o prazer de se debruçar sobre os bandolins chorões que
reverberam no meu coração tão sedento de brasilidade e ainda sentir o frescor
da bossa, refinando minhas audições. E o que dizer do fascínio pelas belas
películas do cinema? Num dia, um encontro casual com os “Rosa” (o Guimarães e o
Noel, é claro); num outro, um bom vinho na companhia do velho Chico; numa tarde
qualquer, um afago do Coltrane e nas madrugadas, um Fellini na tela enorme do
meu quarto. Rumores de um roteiro rotinal robusto.
Outro fator importante é a questão do bom humor, tempero este que não se
encontra em qualquer indivíduo, mas que no meu caso é o que mais ressalta o
paladar. Trago de sobra essa herança provinda do sangue nordestino, algo tão
natural entre os membros de nossa árvore genealógica. Por isso, por onde quer
que passo, sempre deixo saudades, provocando nas pessoas a vontade de continuar
petiscando este sabor que encanta a vida, tornando os dias mais agradáveis. E o
ofício de ensinar, um talento nato que carrego desde a mais tenra idade. As
inúmeras oportunidades lançadas no solo fértil da minha existência: lecionando pela
primeira vez aos 19 anos de idade (e nas melhores instituições de ensino da
capital morena), despontando meu nome entre os melhores professores de
literatura da região; o primeiro programa de MPB e Jazz, com a qualidade
impecável que expus durante os quatro anos de permanência em um das rádios de
Rondônia. Tudo isto recebi de quem? Obviamente, de um Criador generoso que
resolveu despejar toda sorte de bênçãos a alguém que sempre contrariou o tal
ditado.
Depois de
ouvir os lamentos infundados, fiz alguns cálculos e cheguei a seguinte
conclusão: se o ano possui 365 dias, basta multiplicá-los pelas 40 velinhas e
ainda acrescentar 11 dias pelos meses bissextos, o que totaliza 14611 dias de
vida. Um homem que consegue chegar aos 40 com todas essas experiências,
gozando de plena saúde, na companhia de uma abençoada esposa, de uma
família maravilhosa, enlaçado de amigos e de uma mãe que lhe diz carícias ao telefone, já foi muito presenteado e só reforça
ainda mais que a teoria popular é fajuta. Deus também ajuda quem acorda tarde.
Olá primo, como está? Adoro muito ler seu blog, aprendo muito com ele. E nós, nordestinos, temos um sangue danado de alegre :)
ResponderExcluirBjos
Que concatenação meu amigo... Brilhantismo não é pra quem quer é realemten pra quem pode!É o xirú das matas do sulgrossense e da boa RONDONHA pode, áh esse pode...
ResponderExcluirConsegue sobretudo pra quem te conhece, ser "pachola" e altivo my doctor, faz a gente viajar sem "cobrar biÊTI", BOM DIMÁXXXX DIRIA O mANÉ EM SANTA E bELA cATARINA!
eNFIM, APRECIO, APRECIEI E APRECIAREI POR CERTO SEGUIR TE SEGUINDO NESTE bológui MANU NUEVO!
hASTA, QUE SEA COMO dIÓS PERMITA Y SE NO PERMITA AHORA TENEMOS QUE NEGOCIAR, masi cedo ou mais tarde, negar o ócio, renitentar a firmeza e necessidade do lúdico metamorfósico. E nem precissa ser tão ambulante assim como EU pareço... Abrazco ( ès esto?...)