"Pássaros urbanos", de Raimundo Fagner, apesar de ter sido lançada em 2014, somente alguns anos depois passamos a apreciar esta pérola do nosso cancioneiro. Digo "passamos" porque a obra foi alvo de inúmeras audições entre minha mãe e eu. Nesses momentos éramos arrebatados pela música, um sentimento avassalador que só pode ser encontrado na esfera da paixão. Quando a primeira faixa se iniciava, o som das castanholas faziam com que ela erguesse os braços e girando na sala, fosse transportada para o solo espanhol, enquanto eu dividia as atenções entre o violão e a bateria, dando socos e palhetadas no ar. Era nosso transe cultural. Quem flagrasse esse estágio contemplativo pensaria em nos conduzir a um manicômio. Não posso denominar essa comoção de amor. O amor é calmaria, quietude, ternura, paciência, maresia, elo existente entre os alucinados ouvintes em questão. Paixão é loucura, furacão, ausência de senso do ridículo, febre, insanidade, o v...
abstrações, devaneios, vestígios de som, respingos de arte, fé e vida que vazam pelas frestas da alma