Cantar nunca foi sinônimo de louvar. Quem assim o faz alcança apenas aplausos de um público incapaz de ouvir o som que vem do coração. As cordas vocais não ultrapassam o teto e se desmancham no ar porque entoam sua própria glória. As formas mais eloquentes de louvor residem no silêncio, é quando a voz embargada empresta à dor uma cantiga sublime que ecoa até os céus. Um choro incontido, vestido de uma gratidão escarlata, soa como solfejos que acariciam os ouvidos do Criador. Assim foi a experiência de Elias quando percebeu que Deus não estava no vento impetuoso que esmiuçava as penhas, nem ao menos no terremoto estrondoso, tão pouco manifestou-se no fogo, mas a realeza reluziu estampada na mansidão e delicadeza. Louvar implica necessariamente adorar, não é um ato sonoro ou ancorado na afinação. Não há técnicas para sua aprendizagem, apenas disposição em vislumbrar nossa insignificância. Na verdade, quando os olhos se fech...
abstrações, devaneios, vestígios de som, respingos de arte, fé e vida que vazam pelas frestas da alma