Em 1952, o
Senhor disse a João Lacerda: “Sai-te do sertão nordestino, da tua parentela e da
casa de teu pai, para a terra que eu te mostrarei. E
far-te-ei uma grande nação, e abençoar-te-ei e engrandecerei o teu nome; e tu
serás uma bênção." Assim o Padre Solimário marcou a abertura da 11ª festa da
Família Lacerda, realizada em Campo Grande, entre os dias 19 e 21 de junho de
2015, parafraseando o fato histórico acontecido na vida de Abraão, o pai da fé
cristã.
Assim aconteceu. Com mais de vinte dias
na estrada, num pau de arara fretado, uma leva de parentes desembarcaram na
cidade de Pedro Gomes. Dois anos depois, todos os demais chegaram e ali
permaneceram firmes na promessa. A bênção se expandiu e novos horizontes foram
surgindo: Sonora, Coxim, Campo Grande, Cuiabá, Goiânia, São Paulo, até o
exterior recebeu as estacas, evidenciando que as tendas realmente estenderam-se.
Cinco
gerações marcaram presença no evento. Alguns ainda guardavam fresco na memória a
textura da poeira que traziam consigo naquelas viagens: o choro dos filhos soando
como cantigas de lavadeiras que coaravam roupas no lajedo, além dos cheiros de
charque e farinha que faziam olhares saudosos entrecortarem-se no salão. Risos
frouxos se alvoroçavam e por vezes bailavam entre as águas do enorme lago que
ornamentavam o Eco Hotel. Os mais jovens, sem entender o início de toda a
aventura, ficavam pasmos com a alegria esfuziante, algo tão ausente entre suas
gerações modernas. A festa também celebrou os 96 anos de Canã, bem como os 90
de Naninha e ainda evidenciou a presença de Luis, com seus quase 80. Estes
ilustres convidados faziam as lágrimas caírem sem preguiça, representando todos
os demais ancestrais que já tinham partido. Na porta de entrada do salão, uma
foto gigante expunha apenas alguns troncos da árvore genealógica da família, não
se podiam ver as raízes, vez que estas estavam fincadas profundamente no
coração de cada Lacerda.
No palco, antes de iniciar a viagem ao universo dos xotes e baiões, com a
The Lacerd’s Band, desfalcada pela ausência de Bareta, vislumbrei minha esposa e as gerações benditas (mãe, pai e filho) que trouxeram a lembrança do Gênesis. Deus
cumpriu seus desígnios e fez o festeiro, Manoel Cunha Lacerda e também
homenageado por seus 70 anos de vida, arrebatado pela força da emoção, brindar
a vitória de todo esse povo com o lançamento da obra “Traquino”, livro que
desnuda toda a essência de uma família guerreira, íntegra e bem humorada.
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