Há alguns meses, os pecuaristas
rondonienses participaram ativamente da campanha de vacinação do rebanho
bovino, tendo um papel fundamental na prevenção e erradicação da febre aftosa,
além de extirpar também outros flagelos, tais como o carbúnculo, a brucelose e
a famigerada mosca-dos-chifres. Desta feita, lá estava eu acompanhando todo o
processo que acontece duas vezes por ano.
Os
mugidos misturavam-se aos sons uníssonos e indefiníveis dos aboios que ecoavam
pelo curral:
- Ouou!, hea hea!, hen
hen!...
O
bodejo não possuía nenhum código linguístico que o definisse, mas o gado
entendia muito bem a mensagem e obedecia às ordens, seguindo rumo ao brete, só
aguardando a agulhada que viria furar seu couro grosso. De sobra, ainda restava
receber o ferrete fumegante, alaranjado de tão quente, para evidenciar a marca
de seu dono. Escorei os cotovelos num cavalete e fiquei admirando a cena. Como
essas vacas entendem esses rumores atípicos? Como saem satisfeitas, contentadas
apenas com o pasto que as espera do outo lado da cerca, se o cheiro de couro
queimado ainda acompanham suas narinas? As indagações mal foram formuladas e a
resposta já batia no quengo suado. Lembrei-me da cidade. Lá também há muitos
que ruminam coisas ininteligíveis, no entanto seguem felizes, orientados pelo
aboio que os conduz ao piquete:
- Tchu tcha tcha, hãm, tche tche rere tche
tche, bará bará, berê berê, tchubirabiron, Lepo Lepo, rebolation...
O gado contenta-se com o
capim, seja ele mombaça, massai ou jaraguá, mas pelo menos possuem nutrientes
que fortalecem o animal e o bolso do produtor que aguarda as tão almejadas
arrobas, sem contar meus sonhos com aquela saborosa picanha, mas o que dizer do
pasto cheio de pragas que o povo tem ingerido? Compreendi a canção de Zé
Ramalho: “Povo marcado, povo feliz”. Seguem mansos como a boiada que vi passar
naquele dia, olhando firme para o chão, sem saber que os dias estão contados,
tangidos pelo caos, bem próximos do abate.
EXCELENTE, aliás a referida música é uma da perolas do que se poderia sem exagerada pretensão chamar de rol de "AVIVALMA ACANHADA, vilipendiada" dos nós maioria patropis, Mombaças, Pacholas, pachorrentos, gados viejos , envelhecidos, encruados depois de cozidos, assados vivos... Como dito ou implicitado, revelado; chances temos, utiliza-las c á s i nunca! Mais que vazio e etéreo lamento profundo, exaltação legítima POETA, mais um ponto no Cordel Bacana!
ResponderExcluirMuito bonito texto primo!
ResponderExcluirSempre vejo em seus textos algo muito singelo de uma vida bem simples e isso é muito bonito de se ler :)
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