Lá pelas bandas do rio verde, interior do Mato Grosso do Sul, na cidade de Água Clara, navegando sentido Três Lagoas, alguns dos membros da União Grelista de Pescadores (UGP) retomaram suas atividades expedicionárias, porém com grande estilo, agora ocupando as embarcações que os levariam ao recanto dos dourados e das imensas piracanjubas.
Dalai (Ronilton, Vice Presidente e Diretor de quedas), Borba (Floriano Neto, Presidente vitalício) e Rudia Monstra (Beto Lacerda, Diretor de potocas e pilhérias), embora desfalcados pela ausência de Bareta (Edson, Chefe das panelas e do café Beliniano), agora estavam acompanhados de dois novos amigos: Gorduroso, um espécime de tucano mesclado com cururu e Ruliço, um peixe-boi terrestre, mas antes de revelar os detalhes desta inesquecível aventura é necessário descrever como tudo começou:
Rudia e Borba encontravam-se em Campo Grande, eles haviam sido convidados pelo ilustre anfitrião Dalai para realizarem um novo tipo de expedição, visto que em ocasiões anteriores jamais tinham realizado tal feito. Na verdade, no momento do convite já havia dado início à pescaria, nesse ínterim já era possível ver a euforia presente em suas faces rubras, antes de juntarem os apetrechos e amaciarem a pista. Além das tralhas, compraram quatro dúzias de tuviras médias e um saco de minhocas cuiabanas. O dono do estabelecimento até lhes ofereceu uma tal de minhoca mineira, mas os setenta reais pela dúzia afujentaram os pobres cristãos e nesse momento Borba esbravejou:
- Dá pra comprar duas picanhas, uma lima nova pro meu facão e sobram uns pilas. Ainda prefiro o barranco!
A madrugada ainda era espessa quando o renomado Presidente, de longe, avistou Rudia de cócoras, no meio do asfalto, munido de seus pertences, estalando os dedos de alegria. Era o momento de encararem mais uma vez a estrada. Dalai já se encontrava no local combinado, juntamente com o restante dos parceiros. Os barcos e motores já estavam amarrados e as três gigantescas caixas térmicas, forradas de cerveja até o talo. Antes de partirem, ele as acariciou como um pai que envolve seus filhotes, beijou as tampas com carinho e rumaram mata adentro. O local era de difícil acesso, afastado do burburinho da cidade. O barraco era assombrado, infestado de morcegos, ausente de água e energia elétrica, mas isso não importava aos tripulantes, a escassez era compensada pela beleza da paisagem e pelo rio paradisíaco. Depois de embarcados, a visão era estonteante. As bordas do rio verde eram entrecortadas de galhos secos, um verdadeiro convite aos piaus. O que se podia ver à frente, além das águas cristalinas, eram inúmeros cavalinhos (tática tradicional de pesca, cujas linhas e anzóis ficam amarrados em garrafas plásticas). O silêncio só era interrompido pelo motor, quando em movimento, pelas frouxas risadas e pelos cliques do abrir de latas.
Depois de capturarem alguns exemplares, Borba resolveu organizar os aposentos, estendendo os colchonetes em baixo de uma pia aposentada, dispondo-os sobre o chão empoeirado daquela noite fria. Ruliço, com medo de alma penada, resolveu dormir na camionete, enquanto os demais badalaram a noite toda, atormentando o sono do exausto presidente. Gorduroso possuía duas bolsas debaixo dos olhos, elas pareciam coxinhas de frango e quanto mais ele bebia, maiores ficavam. De vez em quando um morcego sem GPS dava vazantes próximos à orelha de Dalai. O riso tomava conta do cenário, era uma algazarra estrondosa. Não teve jeito, Borba passou a noite em claro.
No outro dia realizaram as últimas tentativas de pesca, organizaram todo o material e voltaram à cidade. Quem os visse retornando para casa, esfuziantes de felicidade, teria a impressão de encontrarem pescadores profissionais abarrotados de peixes, mas essa não era a realidade, nem tão pouco o objetivo principal. O que realmente importava era a companhia um do outro. Registrar esse momento na memória e trancafiá-lo com carinho foi o alvo da vitória.
Rudia já começava a sentir a dor penetrante da saudade, teria de encarar a distante Rondônia e despedir dos primos queridos, mas levava consigo a certeza de que valeu à pena cada momento vivenciado.
Meu caro primo Beto, á medida que lia o seu jocoso e bem elabora texto sobre essa estrondosa expedição, em minha mente eu já ia fazendo os cálculos do tamanho da carga e de quantos caminhões vocês iriam precisar para transportar tantos peixes.
ResponderExcluirPorém peixa não havia, nem mesmo na vossa imaginação, mas sim o desejo de desfrutar a amizade sincera, a camaradagem e o amor fraterno, e momentos como este ficam registrados de forma indelével em nossa alma, possibilitando-nos suportar o peso da saudade que sempre nos surpreende.
Maravilha Beto!!!
ResponderExcluirTexto sensacional, e imagino a alegria, a algazarra, as gozações e pilhérias que foram vivenciadas nessa aventura.
Como mesmo disse, coisas que jamais fizeram e que surgiu a oportunidade e de forma mágica, desfrutaram de um final de semana ímpar, que ficarão na memória para sempre.