Pular para o conteúdo principal

Postagens

Mostrando postagens de agosto, 2012

MORFOLOGIA NORDESTINA

     Na hora do almoço, entre garfadas na merluza, sapecou à queima roupa os termos da morfologia:      - Tíbia e fíbula são ossos da parte inferior da perna. Frontal, pariental, temporal e occipital formam a cabeça. O Etmoide é frágil em suas protuberâncias, é o osso do nariz.      - Sabia que há 24 ossos na costela e que a coluna é formada por 33? Continuou minha esposa, empolgada com o curso de Farmácia.      - O ilíaco une três ossos: ílio, ísquio e pube. Eles formam a bacia. Cinco formam o cóccix. A face superior se articula com a inferior da L5 na coluna vertebral.      - Vixi! só conhecia a L 200 (pensei baixinho).      Revirei o peixe na boca.      A aula continuou:      - A vértebra cervical atlas é a primeira da coluna, ela sustenta o pescoço e proporciona o movimento de rotação, além de ser a única que se articula com o occipital do crânio.      - Na cóclea há um líquido que vibra, aí a mensagem reverbera no encéfalo, traduzindo o efeito sonoro. Legal demai

NO ENCALÇO

Que diacho é esse tal de cunho vernáculo? Rebolou o dicionário no mato Aprumou o passo: Bandeira, zumba, pirituba Cróis, chulipa, rabo de couro Inventividades só minhas Troco por outro nem com açúcar. Suas toscas palavras empoemam Nunca precisou de diploma Para encontrá-las soltas na boca. A poesia esteve sempre ali Rude, intacta, pronta Besta quem a procura Em outro canto. Nesse chão adormecido Não há literato Padre, juiz ou político renomado Que encubram seu rastro. Agostinho é poeta nato Só não atina que nesse atalho Sigo seu compasso Admirado.

MOAGE

Palavra que adoça a boca Destila meu sorriso Torpor de espírito Tatuagem que ninguém vê Marcada por dentro Encharcada no prazer No rebojo da saudade. Enrolada nos beijus Mergulhada na moqueca Ensopada no guisado Na farinha ou no jabá No remelexo do baião De dois em dois Sempre enche meu papo. Empotocada, empilheirada Debruçada no pé de manga Ancorada no leito do rio Empoeirada nas alpercatas Esbanjando sua elegância Vejo sua cara avermelhada Cheia de graça. Despi o Aurélio todo E nada de encontrar Algo mais precioso que seu nome Presença bendita Herança divina Sopro de vida que acaricia a alma Moage abençoada!

ENCARVALHADO

Sou riso frouxo na noite infinda enlaçado no descompasso com o eito na vida em prumo. O ócio me bolina todo encena minhas verdades revela o contentamento de andar pelo vento, solto sem rumo. Escanchado na garupa, apenas poemas empoeirados acordes robustos de jazz. Álbum de retratos repleto de pilhérias sonhos que ainda trago hermeticamente enclausurados preso aos meus pés. O resto é todo enfado rotina acortinada de mofo roupa tosca embolorada. Coarando no balaústre caiado troncho no chão mole onde não ouso repousar meu pranto minha toada. Não me encontram em qualquer canto não me encaram em qualquer beco difícil desvendar meu rastro obtuso e esguio. Sigo envelhecido poitado na chuva, apurando de costas para a mediocridade do mundo encarvalhado em meu tonel que boia manso na curva de um rio.

EXPEDIÇÃO EMBARCADA

        Lá pelas bandas do rio verde, interior do Mato Grosso do Sul, na cidade de Água Clara, navegando sentido Três Lagoas, alguns dos membros da União Grelista de Pescadores (UGP) retomaram suas atividades expedicionárias, porém com grande estilo, agora ocupando as embarcações que os levariam ao recanto dos dourados e das imensas piracanjubas.         Dalai (Ronilton, Vice Presidente e Diretor de quedas), Borba (Floriano Neto, Presidente vitalício) e Rudia Monstra (Beto Lacerda, Diretor de potocas e pilhérias), embora desfalcados pela ausência de Bareta (Edson, Chefe das panelas e do café Beliniano), agora estavam acompanhados de dois novos amigos: Gorduroso, um espécime de tucano mesclado com cururu e Ruliço, um peixe-boi terrestre, mas antes de revelar os detalhes desta inesquecível aventura é necessário descrever como tudo começou:       Rudia e Borba encontravam-se em Campo Grande, eles haviam sido convidados pelo ilustre anfitrião Dalai para realizarem um novo tipo de expe

FURDUNÇO NA TERRA E NO CÉU

          Prosadores, poetas, músicos, cantores, compositores, mestres na improvisação, possuidores de um senso de humor afiado, além de pilheristas natos, eis algumas das características marcantes das minhas raízes sanguíneas. Trata-se de uma herança nordestina arraigada em nosso gene.            Eis uma prova disso: enquanto Pedro Gomes fervia na 9ª festa da Família Lacerda, entre os dias 21 e 22 de julho de 2012, segundo meu dileto primo, Manoel Lacerda Lima, outros entes queridos também comemoravam no mundo espiritual. Delicie-se com o belo poema: Festa da família Lacerda no céu Meus sempre amados parentes, consanguíneos e afins! de perto ou lá dos confins, no prumo ou andando ao léu: o que aqui chamo de céu é o mundo espiritual! morada do imortal, que todos somos na Vida, onde parte da querida Família é mais que vivente! No mesmo dia de Julho, no sábado, vinte e um, algo fora do comum aconteceu, lhes garanto: Quase como por encanto, e na mesma vibração, lá na outra dime

ESPETÁCULO ANTOLÓGICO

     Todas as festas possuem características semelhantes: confraternização, sorriso frouxo, afeto, muita comida, bebida à vontade, mas quando os participantes são nordestinos e correm em suas veias o sangue “Lacerda” aí a comemoração envereda-se por outro rumo. Para o entendimento completo da situação é necessário estar no meio dessa gente, mas nesse artigo tentarei descrever de forma minuciosa alguns momentos marcantes, na intenção de não deixar escapar a realidade vivenciada.      No dia 21 de julho de 2012, logo pela manhã, os participantes que chegavam ao Tênis Clube de Pedro Gomes já manifestavam os primeiros lampejos de alegria. Os abraços e beijos eram distribuídos sem modéstia. São Paulo, Goiânia, Campo Grande, Cuiabá, Rondônia, Sonora, Coxim, Pedro Gomes e até os Estados Unidos formavam um nordeste a parte. A algazarra e o furdunço eram tantos que os transeuntes próximos ao local juravam estar presenciando uma briga.      À noite, pelo lado de fora do salão da Maçonaria,