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Mostrando postagens de julho, 2011

LEVITAÇÃO

     Os olhos esfuziantes, ouvidos atentos aos acordes dissonantes, pernas agitadas pelo ritmo torto e envolvente, dedos como baquetas desferindo golpes certeiros em tudo que se vê pela frente e as nuvens roçando os cabelos. Assim sou tomado pela música e levado para muito longe daqui. Para onde vou, não sei, mas sinto que os pés se desprendem do chão.      Nesses momentos de delírio musical, muitas imagens também se apoderam desse estado de espírito trazendo recordações ainda frescas na memória: as inúmeras visitas ao Hamurabi (o maior sebo de Campo Grande/MS), garimpando raridades; os primeiros contatos, ainda no tempo das espinhas, com Metheny, Bireli, Jaco, Wes, Ritenour, Toots, Weckl, Miles, Parker, Coltrane e tantos outros consagrados artistas jazzísticos que guarneciam as prateleiras do primo Edson di Carvalho; os shows de Gil, Djavan, João Bosco e Gal, acompanhados pelos talentosos instrumentistas, Armando Marçal, Kiko Freitas, Marcelo Martins, Nelson Faria, Carlos Balla, Ma

PRA QUEM SABE OUVIR

     Há um disco excepcional do compositor, Edu Lobo, cujo título é “Corrupião”, lançado em 1994, pelo selo Velas. Na capa, o pássaro está pousado sobre a cadeira onde se encontra o artista. Trata-se de uma das aves mais lindas e de voz mais melodiosa deste continente, comum em áreas da caatinga e zonas secas abertas, onde pousa em cactáceas, e também em bordas de florestas e clareiras, nos locais mais úmidos. Vive aos pares. Não costuma acompanhar bandos mistos de aves.      Nas composições, Além de Edu, Aldir Blanc e Chico Buarque completam o naipe de mestres. Já os músicos, Nico Assumpção, Jurim Moreira, Marcio Montarroyos, Gilson Peranzetta, Paulo Bellinati, Teco Cardoso, Mauro Senise, Mauricio Einhorn, Serginho trombone e Marcos Suzano formam o restante da equipe de craques, tornando essa obra antológica.      Uma das faixas tem o título de “Ave rara”. Assim são esses artistas, como o corrupião. Poucas pessoas são capazes de ter a sensibilidade para admirar seu canto. Para os i

TUDO EM SEU LUGAR

     A Música Popular Brasileira é um poço fundo de ilusões. Em suas águas cristalinas e infindas, cada banho é uma sensação de frescor diferente. Ela instiga a vontade de beber cada vez mais dessa fonte. Muitas são as vezes em que preciso retirar toda essa poeira vermelha da vida que insiste em manchar minha tez. Então, apenas ligo o chuveiro sonoro e as águas descem como torrentes.      O título desse artigo tem como base o poema “Cada tempo em seu lugar”, do exímio compositor, Gilberto Gil. Uma obra-prima. Receba os respingos dessas gotas límpidas: Preciso refrear um pouco o meu desejo de ajudar Não vou mudar um mundo louco dando socos para o ar Não posso me esquecer que a pressa É a inimiga da perfeição Se eu ando o tempo todo a jato, ao menos Aprendi a ser o último a sair do avião Preciso me livrar do ofício de ter que ser sempre bom Bondade pode ser um vício, levar a lugar nenhum Não posso me esquecer que o açoite Também foi usado por Jesus Se eu ando o tempo todo

PRECISO SER

Preciso andar ligeiro acordar cedo Ir à igreja Bater cartão Andar na moda Comer salada Ser aprovado Pelo patrão Preciso saber nadar Subir escada Lavar o carro Fugir do não Encolher os ombros Estancar o choro Aprender o ofício De olhar pro chão Preciso aceitar o açoite Ser muito forte Esquecer a morte Saber a direção Abrir o sorriso Acostumar com a saudade Encarar a dor De andar na contramão Preciso ser discreto Assoviar mansinho Pisar macio Pelo salão Gostar de sítio Ganhar dinheiro Economizar Fugir da ilusão Preciso andar com rédeas Quebrar os discos Ouvir as regras da sociedade Manter-se na posição Virar fantoche Respirar, até pode Contanto que sobre Oxigênio nesse balão Preciso ser outro homem Agradar a todos Negar a tudo Não sair de encenação Apenas para Deus Não preciso s er Além do que sou Aqui dentro do coração

ETÉREA

     Creio que os sons já soavam no ventre da minha mãe. Lá dentro ela ensaiava para nascer comigo. Hoje vive aqui, latente, assombrosamente viva dentro de mim. Obrigado, Deus, por me conceder esta música que nunca tem fim. Não posso tocá-la Mas a sinto sempre aqui Companheira das horas amargas Redoma que guarda meus anseios Asas do refúgio e da necessidade Não tens nome, nem cheiro Existe apenas Às vezes quieta, tresloucada Mil faces rarefeitas Embutidas na dor e na saudade Bússola norteadora dos meus passos Notas perfeitas e eternas Correnteza que arrasta a solidão E me arremessa nas rochas Na vazante do descanso Minha irmã verdadeira Frenesi, mistério, delírio Êxtase, febre, loucura Vestígios de sonho e vida Cúmplice do prazer e da ternura Convidas-me para dançar Uma valsa, um tango Ou embriagante milonga Trôpego me desmancho No silêncio de sua pauta solta no ar Sem ritmo ou compasso Apenas sigo meu destino Solto e

QUANTO VALE?

     No dia 14 de julho de 2011, às 23:00 h, no aeroporto de Ji-Paraná/RO, uma grande emoção tomou conta do lugar e se avolumou de tal forma que foi difícil conter o choro. Era a chegada de alguns membros da família Lacerda. De longe se podia ver os cabelos brancos dos integrantes que vinham de Campo Grande/MS para comemorar minha colação de grau, cerimônia realizada na Ulbra, no dia posterior, reunindo quase 60 bacharéis em Direito. Dentre os parentes, os tios, Misa (Misael Hélio), Sabirila Hair, vulgo Frango Vit (Elino), Zé Paganela (José Lacerda) e Maria do Rancho (Maria), além dos primos, Téiu, (Luís Fábio), Amiltu Ceza (Hilton Cézar) e Borba (Floriano Neto).      Parte desta festa já havia começado com a comemoração do meu 1º aniversário de casamento, além da chegada de Madrinlurde, minha mãe querida. Os demais foram se acomodando aos poucos. Frango Vit, Misa, Téiu e Amiltu ficaram hospedados no hotel do Salim, uma espécie de aventureiro que contava histórias vistas apenas nos