Para que um texto seja bem desenvolvido é necessário dominar os recursos linguísticos, apresentar coerência e coesão nas ideias, conhecer as normas cultas da Língua Portuguesa e ter, principalmente, criatividade para expor tudo isso no papel.
Ao ler um bom texto, tem-se a sensação de enriquecimento intelectual, um alargamento no campo do raciocínio, trazendo informações salutares que “abrem” a mente do indivíduo, proporcionando uma viagem profunda ao universo da cultura. Há textos que são capazes de despertar uma alma inconsciente, estimular as linhas de pensamento, acrescentar algo novo para reativar os neurônios e deixar cair as escamas dos olhos para que se possa contemplar claramente uma beleza até então desconhecida. Esse alto nível de produção artística pode saciar a curiosidade do leitor aguçado, é capaz de suprir suas necessidades culturais e deixá-lo numa posição privilegiada de ter um senso crítico mais afiado. Essa sede pode ser estancada nas fontes límpidas da MPB, composta de autores que ousam navegar contra a maré do comercialismo desenfreado, primando pela consistência artística. Infelizmente, há outros que não acrescentam nada, as contribuições ficam no âmbito do retrocesso, da mesmice, carregados de futilidades, trazendo apenas palavras soltas, frases desconexas, ideias sombrias e mortas, um desperdício total de tempo. Depois de lê-los, nada acontece e por serem produções extremamente descartáveis, embrutecem o receptor, petrificam ainda mais a sua frágil consciência.
As obras bem elaboradas fazem com que o leitor seja mais exigente. Na verdade, quem já "descobriu o paraíso" e se banhou nas águas escaldantes da beleza, podendo contemplar toda sua magnitude, não quer voltar a fenecer no deserto, nem tão pouco permanecer na escuridão.
O texto abaixo, "A moça do sonho", composição de Edu Lobo e poema de Chico Buarque, é um belo exemplo de que a literatura da Música Popular Brasileira é uma pérola, faz os olhos marejarem de emoção:
A moça em contraluz
Arrisquei perguntar: quem és?
Mas fraquejou a voz
Sem jeito eu lhe pegava as mãos
Como quem desatasse um nó
Soprei seu rosto sem pensar
E o rosto se desfez em pó
Por encanto voltou
Cantando a meia voz
Súbito perguntei: quem és?
Mas oscilou a luz
Fugia devagar de mim
E quando a segurei, gemeu
O seu vestido se partiu
E o rosto já não era o seu
Há de haver algum lugar
Um confuso casarão
Onde os sonhos serão reais
E a vida não
Por ali reinaria meu bem
Com seus risos, seus ais, sua tez
E uma cama onde à noite
Sonhasse comigo
Talvez
Um lugar deve existir
Uma espécie de bazar
Onde os sonhos extraviados
Vão parar
Entre escadas que fogem dos pés
E relógios que rodam pra trás
Se eu pudesse encontrar meu amor
Não voltava
Jamais.
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